sábado, 16 de agosto de 2008

JARDIM DOS SONHOS MORTOS



Chuva, águas...
Pântanos.
Dissolveu tudo. Desintegrou
As máscaras de pano, os alicerces de ferro,
Rapsódias desumanas, percussão de sons doentes
Glória inútil, sonho nati-morto, prematuro
Prazer em fazer o outro sentir dor – prazer mórbido
De erguer muros, de matar, sorrindo, o futuro.

Jamais mostrar a paisagem interior
O rosto, a voz, o olhar – essa única
Que seria a verdadeira, que poderia fazer
A aurora voltar..
Jamais ter coragem de soltar a própria voz,
Num cântico que fosse mesmo de água,
Que inundasse a vida, mesmo sem um “nós”.

Nessa gruta do meu velho sonho,
Onde a verdade dominava,
Construirei teu jazigo tristonho,
Com saudade daquele a quem um dia
Até ao meu anjo falava.

Temo a escuridão do ser.
Temo as árvores que escondem os frutos
Com medo de matar a fome do caminhante
Pelo simples prazer de ver um rosto morrer
Diante do pomar do nada na estrada da vida
Que é sempre longa e cruel
Para aquele que se faz dos sonhos, retirante.

Temo as melodiosas palavras dentro da noite,
Temos os jasmineiros de sentimentos póstumos
Que perfumam a vida
Com seu farelo de ossos
Para continuar seu sono consciente de sucesso,
e despertar, um dia,
sem vida nenhuma, nas brumas
do jardim dos sonhos mortos..


(Direitos autorais reservados).
Foto: AM Catarino

Um comentário:

Célia de Lima disse...

Oi, querida, passando pra lhe desejar uma ótima semana! Novos caminhos, mas sempre bem iluminados pela sua energia e vida. Beijão.