domingo, 20 de junho de 2010

O Grande Sentido


Quem chorará comigo
aquele que se foi hoje!
Quem entenderá
que seu sangue era vermelho como o meu,
que seus olhos brilhavam como os meus,
que eu o amava como se amam os seres
que nascem para nos moldar,
para nos ensinar,
para nos conduzir!
Não sei quem chorará comigo.
Talvez apenas aqueles que sabem
que eu e o verde das plantas somos um.
Que os ninhos reconduzem à esperança.
Que cada raio de sol
me faz agradecer o fato de eu poder,
mais uma vez, enxergar
o nascimento de um novo dia.

Quem chorará comigo
o meu amigo que partiu hoje,
cujos olhos me falavam
de um mundo que talvez, um dia,
eu entenderei no seu mais amplo sentido.
O mundo da fidelidade, da lealdade,
do companheirismo, do amor incondicional.

Porque debaixo desse teto de estrelas
e lutas e derrotas e vitórias,
eu e esse cão que partiu hoje
éramos Um só
diante Daquele que igualmente nos
deu o mesmo sopro de vida.


(Direitos autorais reservados).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

FRIO


Frio. Apenas esses olhos de memória
passeiam lá fora.
Esses dias frios trazem a distância
entre o corpo e o espírito.
Dirijo-me a essas coisas pequeninas
que me trazem os sons dos violinos:
o olhar do cão, o passo do pássaro molhado,
a flor na relva ainda viva,
apesar do vento, do frio e das chuvas.
A borboleta na parede, aguardando o início
de um vôo ao desconhecido.
E escrevo gelando,mas com o rosto voltado
para a grande luz da palavra
que procura o céu e suas estrelas
como um viajante perdido na noite.
Resta-me o eco das coisas resguardadas
pelos olhos da memória
para fugir dessa fronteira com o inverno
onde até os violinos emudecem.



(Direitos autorais reservados).

quinta-feira, 3 de junho de 2010

PROMESSA


(para minha mana Luiza)


Nós caminharemos
por esses espaços onde sonharam
os nossos passos.
As folhas mortas ficarão para trás.
E os silêncios insanos.
Iremos para onde vai o sol,
porque ainda somos humanos.

Nosso verbo será ouvido
falaremos de nós
e sei que haverá quem ouça
a nossa voz.
Falaremos dos nossos sonhos
e ansiedades
e ideais e contrariedades
sem que tenhamos o silêncio
como resposta
dos narcisos que só conhecem
o próprio rosto
e a própria porta.

Caminharemos como quem passa
pela vida em estado de graça
indo, vindo, se perdendo,
mas ousando e sendo.

Caminhante, que irás ao meu lado,
iremos devagar.
Sem futuro, sem passado,
sem seres alados,
sós, com nós mesmos,
mas finalmente,
despertados.