quinta-feira, 16 de setembro de 2010

INFÂNCIA

Não esqueço dos laranjais
à beira da estrada,
enfeites de Natal
que continuam balançando
na minha árvore da memória.
Tal qual as carambolas,
estrelas que o sol esculpiu
num dia em que sonhou ser noite
e fazer história.

A infância é a ária da vida
cantada com duendes e fadas.
Só quando ela termina,
é que ouvimos
o som da lágrima.



(Direitos autorais reservados)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Teu Silêncio

Alí, nesse Teu silêncio
atravesso minha terra de mágoas
e leis que me fizeram fruto
sobre raízes cansadas.

Não sou capaz de reflorescer
nessas estações adormecidas.
As dores - comuns, banais,
ardem nas letras,
mas não recriam vida.

Liigo-Te às fontes
para ser capaz de me alvorecer
no lado escuro da vida.
Teu rosto ainda me é horizonte.

Tocas-me as pedras,
recostadas, miseravelmente,
em meu espírito.
E com um gesto de luz
sei que também as eleva.

E prossigo.






(Direitos autorais reservados).

terça-feira, 13 de julho de 2010

O amor nos tempos do onça (*)


Chega-se perto de algumas paragens.
Perto.
Jamais dentro.
O possível vem sem luz.
Enunciados de silêncios.
Claridades que choram por si mesmas.
A noite vazou as águas
sobre a palidez das têmporas.
O que acaba
é um poema que ninguém mais lembra.
Da última vez, tudo era superior:
ao primeiro, ao segundo, ao terceiro...
Era o único amor.
Não, não me digam qual é o lado
que dá para o mar.
Esse, me mostra o espelho,
no fundo de uns olhos vermelhos.
Naufrágio do por-do-sol
- e não há luar.




Imagem: Fotosearch/Google
(Direitos autorais reservados).

(*) título inspirado no romance "O Amor nos Tempos do Cólera" de Gabriel García Marquez.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

NESSE LUSCO-FUSCO


Queria parar as horas
desse céu trançado de nuvens:
clerical pedágio para o infinito.
Travar as horas - queria, queria,
para me resgatar
sem temor,
destes paramentos de palhaço
quando pranteio uma terra deformada
em países, raças, ideologias,
em humana cegueira encarcerada.
Começo a acender lampejos de esperança
nesse lusco-fusco
onde dormirá esse céu azul estrangeiro
que me inicia.
O tempo vai, rápido,
como o pensamento
Corporifica-se:
lágrimas na planura ondulam-se como rio
partindo de sonhos sem foz.


Imagem: Fotosearch - Google
(Direitos autorais reservados).

domingo, 20 de junho de 2010

O Grande Sentido


Quem chorará comigo
aquele que se foi hoje!
Quem entenderá
que seu sangue era vermelho como o meu,
que seus olhos brilhavam como os meus,
que eu o amava como se amam os seres
que nascem para nos moldar,
para nos ensinar,
para nos conduzir!
Não sei quem chorará comigo.
Talvez apenas aqueles que sabem
que eu e o verde das plantas somos um.
Que os ninhos reconduzem à esperança.
Que cada raio de sol
me faz agradecer o fato de eu poder,
mais uma vez, enxergar
o nascimento de um novo dia.

Quem chorará comigo
o meu amigo que partiu hoje,
cujos olhos me falavam
de um mundo que talvez, um dia,
eu entenderei no seu mais amplo sentido.
O mundo da fidelidade, da lealdade,
do companheirismo, do amor incondicional.

Porque debaixo desse teto de estrelas
e lutas e derrotas e vitórias,
eu e esse cão que partiu hoje
éramos Um só
diante Daquele que igualmente nos
deu o mesmo sopro de vida.


(Direitos autorais reservados).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

FRIO


Frio. Apenas esses olhos de memória
passeiam lá fora.
Esses dias frios trazem a distância
entre o corpo e o espírito.
Dirijo-me a essas coisas pequeninas
que me trazem os sons dos violinos:
o olhar do cão, o passo do pássaro molhado,
a flor na relva ainda viva,
apesar do vento, do frio e das chuvas.
A borboleta na parede, aguardando o início
de um vôo ao desconhecido.
E escrevo gelando,mas com o rosto voltado
para a grande luz da palavra
que procura o céu e suas estrelas
como um viajante perdido na noite.
Resta-me o eco das coisas resguardadas
pelos olhos da memória
para fugir dessa fronteira com o inverno
onde até os violinos emudecem.



(Direitos autorais reservados).

quinta-feira, 3 de junho de 2010

PROMESSA


(para minha mana Luiza)


Nós caminharemos
por esses espaços onde sonharam
os nossos passos.
As folhas mortas ficarão para trás.
E os silêncios insanos.
Iremos para onde vai o sol,
porque ainda somos humanos.

Nosso verbo será ouvido
falaremos de nós
e sei que haverá quem ouça
a nossa voz.
Falaremos dos nossos sonhos
e ansiedades
e ideais e contrariedades
sem que tenhamos o silêncio
como resposta
dos narcisos que só conhecem
o próprio rosto
e a própria porta.

Caminharemos como quem passa
pela vida em estado de graça
indo, vindo, se perdendo,
mas ousando e sendo.

Caminhante, que irás ao meu lado,
iremos devagar.
Sem futuro, sem passado,
sem seres alados,
sós, com nós mesmos,
mas finalmente,
despertados.

sábado, 22 de maio de 2010

DOR


Tudo é silêncio e dor.
Escrever hoje é apenas
um exercício
para ver se consigo enxergar as letras
por entre as lágrimas.

...minha Shaninha, nos reencontraremos
na eternidade.

Lúcia Constantino (Clara Letícia)

domingo, 9 de maio de 2010

Nossa Senhora das Mães,


(à minha amada mãe Hilda, in memoriam)


Se posso Te pedir alguma coisa,
do ventre deste melancólico dia,
é que no Teu Lar de Luz,
ornado de manjedouras,
conserves todas as mães
(que estão aqui e que já passaram)
como essas estrelas guias
que são, para o coração,
o mais verdadeiro e sincero
pão nosso de cada dia.


(Direitos autorais reservados).
Imagem: Fotosearch (Google)

domingo, 18 de abril de 2010

O MENINO DAS AREIAS - Tributo à Saint-Exupèry


Tributo à Antoine de Saint-Exupèry


Elas te trouxeram do invisível em suas luzes,
para iluminar nosso império.
Abriste a casa de tua alma ao mundo,
e a tua linguagem foi transparente e límpida
como o coração do teu príncipezinho.
Cada pedra de tua cidadela interior
recende a perfume de tuas laranjeiras
"convém libertar a árvore e ela desenvolver-se-á
com toda liberdade" (*)
Enquanto amavas a liberdade, os homens
não se reconheciam mais, e estilhaçavam
seus tristes espelhos,
para não verem mais seus rostos.
Enquanto um ser humano partia e
"se tornava montanha e barrava o horizonte" (*)
hoje à luz de todas as estrelas o homem
se auto arbitra em trevas.
Mas tu permaneces, como as raízes,
como as tuas sentinelas a velar o essencial,
para que os rivais da alma humana
não destruam as rosas, não podem os laranjais,
não armem redes invisíveis para apanhar
a argila humana, aquela que tanto amavas.
"Só o Espírito, soprando sobre a argila,
pode criar o Homem" (*)



(*) Saint-Exupèry

Imagem: Google

(Direitos autorais reservados).

domingo, 14 de março de 2010

DESDOBRAM-SE OS SINOS


Desdobram-se os sinos
sobre os meus pensamentos.
Dobro as pálpebras sobre o violino,
arco-me ante o templo dos ventos.

Levo o horizonte nos meus braços
dessas tantas ausências em vão.
Vou nos acordes dos meus passos
cifrando-me em notas do coração.

Só sei essa canção que um anjo,
um dia, tocou pelos espaços
para despertar-me à imensidão.



(Direitos autorais reservados)


quarta-feira, 10 de março de 2010

AKIM

De que ramo nasceu essa flor...
talvez daquele que um anjo esqueceu
bem na palma da mão de Deus.

Veio talvez num arco-íris,
ou numa estrela em noite azul.
Faz-me rir, chorar,
e acreditar
que os homens
ainda podem ser Luz!



Vide Akim Camara

http://www.youtube.com/watch?v=DreyVZ49_mA

domingo, 28 de fevereiro de 2010

CHOVE LÁ FORA

Chove lá fora.
Por que estou aqui dentro,
sem memória, sem tempo,
não vou embora.
Chove lá fora.

A boca de prata
do céu desabou,
a estrada era clara,
a água levou.
Chove lá fora,
não vou embora,
não sei pra aonde vou.

Cismo esperanças
em meus olhos-criança
sem adeus de tesouros,
só dias de ouro.
Minha alma guardou.

Chove lá fora,
Parem as horas.
Me digam onde estou.


(Direitos autorais reservados).

sábado, 27 de fevereiro de 2010

CAMINHOS DAS ÁGUAS

Estranhos caminhos das águas,
nos lentos sorvos do mundo.
Nos olhos, nos cristais das casas,
são pérolas que emergem
de mares profundos.

Pousam nos lábios
como beijos de ventos.
Profanas, salgadas
pétalas de dor.
São melodias,
são faustos alentos.
Navegam na face
num sorriso de amor.

Águas me fogem
da face silente.
Paisagem lunar,
sou um veio vazio.
Leio nas pedras
(as que não sentem)
que eras deserto
e tomei-te por rio.



(Direitos autorais reservados).

domingo, 14 de fevereiro de 2010

AQUELE INFINITO

Sou lua de silêncio e vento
náufraga e violino
dentro dos bosques.
Chamamentos,
que a claridade consome.
Verás meus pés guerreiros
cansados de tantas batalhas.
O que me foge no rosto
- aquele infinito
que em meus olhos desmaia.


(Direitos autorais reservados).