sábado, 12 de julho de 2008

INVERNO, AO ANOITECER


Anoitecer de inverno.

Enlaço os últimos raios de sol.

Percorrem as rosas, os pinheiros,

convertem-se em cajados

para o olhar.

Ao longe, um pássaro sobre o muro

fala-me de suas rochas de sonhos.

Onde as ondas não chegam,

onde pode ser mais íntimo do horizonte

e sentir-se vaso eterno na imensidão.

A casa me chama.

Consagrei-me ao dia

e agora anoitece.

É preciso dispersar os cereais

sobre a mesa

e transbordar as taças

com a água pura do coração.

Saudar o ocaso

como a Santa Ceia.

Quando o sol se despede

para renascer e iluminar

todos os frutos do pó da terra.




(Direitos autorais reservados)
Foto: Eduardo Bittencourt Pinto

PASSAGEIRO DOS VENTOS


Meu tempo é miudo.

Flores do campo ao vento.

Simples estar ao largo.

E o tempo passa pelo vento

regendo o pensamento,

esse abissal ser alado

que não se doma

de forma alguma.

A não ser quando chove cá dentro

e as gotas vão reescrevendo

tantos momentos

e também vida nenhuma.



(Direitos autorais reservados).

quinta-feira, 10 de julho de 2008

PERCEPÇÃO


Percebemo-nos

pelo que negamos em nós.

A tormenta da memória,

o canto pungente na alma,

a estrela velada pelo ocaso.

O que regressa orvalhado de perguntas e histórias.

O que aceitamos dentro de nós

muitas vezes nos prolonga a vida,

mas nos agoniza numa camuflada vitória.



(Direitos autorais reservados).

quarta-feira, 9 de julho de 2008

VALE A VIDA




Vale o carinho, a amizade,

a energia.

Tudo claro como a luz do dia

a percorrer as veias

perfumando os caminhos.

Assim nos entregamos um ao outro

sem nenhum véu cobrindo o rosto.

Apenas nosso coração

como rosa plena em nossas mãos

alando-se em seus próprios espinhos.


(Direitos autorais reservados).

AO MESTRE DE ASSIS


Ó Francisco, sou uma sombra enegrecida
pelo sol que me doou a cor de uma saudade.
E hoje, só peço uma licença à vida
para ter, do infinito, a tua claridade.

Ó Francisco, nas luas que contemplo
sinto teu cordão atado ao universo.
Ah, quem me dera mergulhar no teu exemplo
e derramar no mundo a beleza dos teus versos.

Ó Francisco, a quem Deus, um dia, ensinou
a doar a cada ser vivente seu incondicional amor
tuas sandálias ainda ouso procurar.

Na imensidão de minhas mágoas,
mesmo com os olhos rasos d'água,
eu tentarei com elas caminhar.


(D. A. reservados)
Lucia Constantino
Publicado no Recanto das Letras em 29/07/2006
Código do texto: T204977

O QUE UNE E CONDUZ


O quanto de mim deixo em ti

quando toco tua mão

ao longo do caminho.

O quanto confunde-se

a estrada em amor e dor

ao olhar o fundo dos teus olhos,

com a descoberta desse lusco-fusco

que vela também os meus?

Mas um pouco assim,

entre fontes e esperas,

entre úmidos e ternos toques de amparo

envoltos em laços verdadeiros,

vamos nos apresentando às estrelas

para que numa próxima primavera

nossos olhos possam estar limpos

e secos para vê-las

e nossas mãos, irmãs eternas,

ofenderão os espinhos

e colherão as verdadeiras rosas

numa nova e infinita manhã.



(Direitos autorais reservados. Lei 9.610 de 19.02.98)






ALVA NUVEM DA ALMA





Compreendido o caminho

que se levante a minha alma

ante o pó sagrado de que foi feita

e que minha existência de olhos estreitos

gire sobre as bordas dos abismos

para lograr um mundo melhor.

Ver-te-ei ao amanhecer,

ó edelweiss,

no país das alturas e das profundezas

envolto em tua essência divina

em tua beleza de outono esperado

um branco talvez já esvanecido

mas de pureza preservado

sobre os abismos.

E ascenderei em ti.





(Direitos autorais reservados. Lei 9.610 de 19.02.98)