Chuva, águas...
Pântanos.
Dissolveu tudo. Desintegrou
As máscaras de pano, os alicerces de ferro,
Rapsódias desumanas, percussão de sons doentes
Glória inútil, sonho nati-morto, prematuro
Prazer em fazer o outro sentir dor – prazer mórbido
De erguer muros, de matar, sorrindo, o futuro.
Jamais mostrar a paisagem interior
O rosto, a voz, o olhar – essa única
Que seria a verdadeira, que poderia fazer
A aurora voltar..
Jamais ter coragem de soltar a própria voz,
Num cântico que fosse mesmo de água,
Que inundasse a vida, mesmo sem um “nós”.
Nessa gruta do meu velho sonho,
Onde a verdade dominava,
Construirei teu jazigo tristonho,
Com saudade daquele a quem um dia
Até ao meu anjo falava.
Temo a escuridão do ser.
Temo as árvores que escondem os frutos
Com medo de matar a fome do caminhante
Pelo simples prazer de ver um rosto morrer
Diante do pomar do nada na estrada da vida
Que é sempre longa e cruel
Para aquele que se faz dos sonhos, retirante.
Temo as melodiosas palavras dentro da noite,
Temos os jasmineiros de sentimentos póstumos
Que perfumam a vida
Com seu farelo de ossos
Para continuar seu sono consciente de sucesso,
e despertar, um dia,
sem vida nenhuma, nas brumas
do jardim dos sonhos mortos..
(Direitos autorais reservados).
Foto: AM Catarino
Um comentário:
Oi, querida, passando pra lhe desejar uma ótima semana! Novos caminhos, mas sempre bem iluminados pela sua energia e vida. Beijão.
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