Não lembro há quanto tempo ouvia as rosas falarem.
Parece-me que foi numa irrealidade,
eu era calada e o mundo falava.
Tinha um rosto. Depois o tempo passou,
a alma pousou sobre uma lenda sem vida.
Uma névoa em punhal cegou as margaridas.
Uma voz e era somente uma voz.
Sem rosto, sem endereço,
sem nome, uma forma no espaço,
nem mulher, nem homem.
Então, adormeci de tédio e tristeza
entre aquelas várias vidas
e as rosas viraram comida
pras formigas.
O amor que era doce virou fel
- por falta da verdade, o coração,
moribundo, escandalizou-se
com o rosto escondido de um deus
que fez da palavra sua dança
impondo um preço alto demais
(impossível de humanamente se pagar)
ao sonho e à esperança.
(Direitos autorais reservados).
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